diluindo a confusão no ondular

Transcender o mapa

Agrada-me, ou percebo, faz sentido para mim, a ideia de o “estado Natural”. Ou o estado da mente sem o pensamento, livre de camadas, da programação. E não apenas do pensamento, da contextualização. Da mesma forma que olhamos para uma palavra e a lemos, olhamos também à nossa volta e fazemos uma leitura. Onde estou? Estou em França. Estou na casa do André. Que dia é hoje? 28 de Junho. Tenho 29 anos desempregado. Tenho a minha casa no Porto etc. Quando simplesmente pensamos: “Olha um castanheiro, olha um corvo, o Sol está quase a desaparecer. Que cor laranja tão bonita”. Estamos, desde que nos levantamos até adormecermos, a ler o nosso meio ambiente, as pessoas, movimentos etc. Estamos sempre a viver segundo os nossos conceitos, ideias, desejos, pensamentos, da leitura, ou segundo o mapa perceptual e conceptual. Ou seja, a mente nunca se encontra no seu estado natural. Encontra-se sempre fixada no movimento do pensamento, sentimentos etc na Matrix.



Essa Matrix ou mapa perceptual, conceptual, sistema de conhecimentos, existe a vários níveis. Para a pessoa comum, o seu mapa perceptual/conceptual, +e o mesmo usado por 90% do resto do mundo, com poucas diferenças, é o mapa criado, alimentado, moldado pelo Sistema. Neste caso o individuo encontra-se num estado dependente do Sistema, agarrado e dependente dos media mainstream. E age de forma quase ou totalmente automática, de acordo com o que o Sistema deseja. Os restantes 10% ou nasceram em condições em que nunca se encontraram dependentes do mapa fornecido pelo Sistema, ou de alguma forma libertara-se dele e passaram para outro, criado por si ou por outros de confiança, ou cultos, religiões, etc. Penso que estas diferenças não são qualitativas mas quantitativas.

Uma pessoa que passa para outro mapa, pode fazê-lo por influência externa, ou pode ela própria construir o seu próprio mapa. No entanto, a migração para outro mapa não é total. De certa forma estamos sempre ligados ao antigo mapa, porque fomos educados, enquanto crianças, por um sistema de educação que está criado, para nos incutir o mapa de controlo do Sistema. Para mais temos sempre que entrar em contacto com pessoas que estão dominadas pelo mapa do Sistema. Quer seja no trabalho, nas ruas, família, amigos etc. Portanto temos que saber minimamente como funcionam, e em que estado se encontra presentemente o mapa do Sistema. Mesmo que não quisessemos, estamos rodeados de informação visual e auditiva que nos força a absorver esse mapa. Temos também os nossos familiares que na maior parte das vezes ainda se encontra dependente do mapa principal. Portanto mesmo que estejamos de certa forma desligados do mapa do Sistema, temos nele as nossas origems e nunca conseguiremos uma separação total.

No entanto o mapa que adoptamos para nós, que vai no nosso coração é o que nos vai ajudar a defenir, ou a fazer uma leitura da realidade e do mundo etc. No entanto, isto apesar de ser um passo necessário, este cortar do “cordão umbilical”, não é sinónimo de salvação, de superioridade, de conhecimento superior, etc. Até podemos cair num mapa mais destrutivo, como gangs, crimes, cultos, etc. Podemos também adoptar um mapa que nos ajude a ser bem sucedidos no Sistema. Uma pessoa que após uma análise do mundo, percebe como este verdadeiramente funciona, poderá fazer a mudança para um mapa que lhe vai ajudar a crescer materialmente, em poder, influência etc. Ma maior parte dos casos, são as pessoas que estão em política, ou em gestão de empresas e que se tornaram bem sucedidos Maquiavelicamente.

Mas podemos também adquirir um mapa que nos ajude a compreender o mundo, e também o nosso Ser, a nossa mente, o nosso interior. Porquê? Porque compreendemos o vazio do materialismo e a riqueza do crescimento interior/espiritual. Ao adquirirmos um mapa deste género, assumimos uma busca pela Verdade. Deus, Verdade Absoluta, Nirvana, equílibrio mental, Paz, felicidade, alegria, Amor. Seja o que for que lhe queremos chamar. Mesmo neste mundo nos podemos perder. Mas afinal porquê um mapa/matrix? A mente para funcionar parece precisar de um “sistema operativo”, um programa. Senão poderiamos atingir algo a que se chama no mundo de loucura. Embora loucura, seja apenas um ponto de vista. Precisamos desse programa, mapa, que é apenas um aspecto do Ego.

É possível, quando não precisarmos do programa, mapa, percepcionar o mundo ou a realidade, uma árvore por exemplo, sem fazer uma leitura? Simplesmente estar. Sem julgamento, distinção etc. Sem antecipação, planeamento, ou seja, sem contextualizar e pensar. Deixar a mente desligar os seus programas de análise, e permitir o olho da mente ver a realidade sem filtras, sem tradução. Ver a realidade tal como é, e não como pensamos ou queremos que seja. Quando dou um nome a algo, eu quero que esse objecto seja esse algo. Mas ele não depende da nossa interpretação. Ele existe e é só isso. Não há céu, nem Sol, nem vento, nuvens, árvores ou pássaros. Não há cores nem sons. As coisas são o que são. Não precisam de nomes, de categorias. Etc.

Nesse caso a mente tem que se encontrar num silêncio total. Sem medo, desejo, nem análise, sentimento, sem separação, sem o “Eu estou a ver aquilo”. Este é o estado natural da mente. E nesse estado deverá ser possível existir uma espécie de comunhão com a realidade com a natureza que é o natural em si. Quando a mente “vibrar” ao mesmo nível que o Universo, poderá ocorrer o Satori, o Sagrado. Portanto, qualquer que seja o nosso mapa, estamos a viver numa espécie de casulo da mente. Esta encontra-se separada do natural devido à sua dependência do mapa e do Ego, mera informação, movimento de memórias, de programação. Esta realidade na qual a mente se encontra prosioneira, é relativa. Muda a todo o momento. Depende de convenções e pontos de vista, é mutável. É um sistema de controlo.Essa realidade relativa, a camada, pode ser observada, estudada até à raiz. Falo a nível pessoal, os nossos pensamentos, sentimentos, medos, desejos, sofrimento etc. A camada em nós. Esse mapa/camada/matrix/Ego pode ser transcendido.

O muro pode abrir uma brecha e do outro lado iremos encontrar o silêncio absoluto, o vazio, a Verdade, o estado Natural do Universo, daquilo que é. Ou seja, o estado natural da mente. Penso que no estado natural não há Eu. Apenas uma presença daquilo que É. Não há medos, desejos, conceitos. Apenas uma aceitação total. Um silêncio total, uma rendição total.

1 comentário:

Anónimo disse...


No Universo tudo está orientado para o desenvolvimento, e nós, seres humanos, não somos diferentes, todos estamos convidados a realizarmo-nos…dentro de nós existe uma força, impulso dinâmico, que nos roga para que desenvolva-mos o que somos, a tirar dentro de nós todo o potencial…
Mas é necessário desejarmos com o coração essa transformação…querer mudar a nossa maneira de estarmos na vida…uma boa dose de paciência, simplicidade, humildade, beleza, autodisciplina, auto-observação, introspecção, aceitação e doação e sobretudo a Graça da nossa Mãe Divina…
O ser humano sábio reconhece-se em todos, dignos ou indignos, santos ou pecadores, sábios ou tontos…vê Deus ou a Divindade em todas as formas de vida…
Obrigado pela partilha.
Fraternalmente
José