diluindo a confusão no ondular

Uma questão de Ser

Infinitas possibilidades.
Cada pensamento um grão de poeira ao vento.
Todas estas teorias, opiniões, ideias e palavras derivam do confronto entre o Paradoxo da Vida e a mente humana. Quando confrontados com o conceito de Infinito e a realização do Ser interior, acedemos a um estado de consciência em que parece que podemos mais facilmente ligar os pontos, montar o puzzle. Mas também parece ser algo onde tudo é possível, o ligar dos pontos nunca termina, e no final temos um emaranhado de fios. Sinto que há sempre uma peça que não bate certo, há sempre algo que não encaixa. E essa peça que não encaixa tem a ver comigo, sou eu próprio. Apesar de eu perceber todos estes conceitos continuo a sentir-me insatizfeito. Porquê?

Começo a achar muito mais importante o mundo da acção, ou por outras palavras a forma como vivo a vida. Que escolhas fazer com este corpo/mente/Ser no rio do tempo e do espaço? Vão ser essas escolhas e acções que vão determinar o local onde me encontro fisicamente, os objectos e pessoas que me rodeiam, e que experiências vou enfrentar. São essas condições, e a minha atitude perante elas, que vão permitir uma vida com pouco ou mais atrito, ou seja, uma vida feliz, ou estar em paz comigo e com os outros. É tudo uma questão de "saber estar" no tempo e no espaço. Este à vontade com a vida, com a existência, e a calma e felicidade que podem trazer, são difíceis de atingir para mim.

É neste ponto que entramos em sintonia com o Universo. Mas não há forma de racionalizar e explicar isto, porque é uma questão de Ser, de estar, e é diferente para cada um de nós. Por mais amigos que tenhamos, por mais ideias que troquemos, por mais amados e compreendidos que sejamos, todos estamos sozinhos neste ponto. Cada um tem a sua relação intima com a Vida, com Deus, ou com o Ser interior, com a existência, o Paradoxo, e é impossível de ser razionalizada. Esta relação harmoniza-se no campo do Ser, na experiência subjectiva pessoal, que vem antes, e é a origem do pensamento.

O pensamento parece ser uma função do corpo/Ser, um produto secundário, assim como outras funções como o defecar, urinar. Não deveriamos permitir que seja apenas o pensamento a moldar os sistemas humanos. Acho que no mundo de hoje há pensamento demais. Todo o nosso sistema, económico, político etc, está baseado em conceitos, ideais, que tiveram mais como base o campo do pensamento e não o campo da empatia, do Ser. Talvez por isto os antigos mestres Taoistas diziam que os imperadores e líderes que tentavam controlar, criar leis e forçar o povo nalgum sentido, não possuiam compreensão nenhuma do Tao. Para estes mestres a verdadeira liderança passava mais por apenas deixar ser, e controlar o mínimo possível, só assim poderia realmente o sistema harmonizar-se intuitivamente e sem atrito.

Apesar de todas as experiências que tive e de possuir esta capacidade de ter uma compreensão mais ampla dos sistemas humanos, continuo a não conseguir encontrar uma forma de estar, uma aceitação, e simplesmente viver a minha vida de forma satizfatória. E isto deve-se ao facto de a minha mente, a parte intelectual, ou o cérebro esquerdo, ou o ego nem sei, estar muito agarrado às experiências passadas, às minhas teorias, à forma de ver o mundo, à minha própria personalidade, ao pensamento. Sinto-me diferente das outras pessoas e sou muito pouco social. Além disso a minha vida pessoal não está muito boa e todas estas condições levam-me a entrar num ciclo vicioso que vai apenas alimentar uma desarmonia interior e um bloqueio do fluir. Se existem realmente Seres ETs superiores a ver este Show da existência humana, devem estar um pouco aborrecidos com a minha personagem porque passo os dias com a "cabeça no ar".

No outro dia li um pequeno livro que analisa a vida de vários filósofos e achei interessante porque muitos deles tiveram uma vida algo solitária e triste. Eram pessoas algo obcecadas com as suas ideias, tão hipnotizadas pelas suas próprias mentes e teorias que a sua parte interior mais importante, a capacidade de amar e ser feliz acabou por definhar, morreram sozinhos e aposto que infelizes. As suas teorias focalizavam-se muito no peso da existência e no sofrimento. Julgavam a natureza como um sistema malévolo e injusto. Mas acho que isso era o reflexo da sua vida, do que sentiam, da forma como viviam as suas vidas, depois claro que tentavam justificar a sua dor através de desesperadas teorias existenciais. Estou a generalizar claro. O mundo do pensamento humano é tão variado e complexo, tão cheio de "ismos"... é um lanbirinto autêntico no qual corremos o perigo de sufocar.

Para mim a verdadeira questão é como conseguir estar na Vida, e conseguir algum tipo de paz e felicidade, e enfrentar o confronto entre mente e Paradoxo com sabedoria e pouco atrito. É uma questão de manter a mente vazia, ou em silêncio, de disciplina também, e aceitar o que é, estar presente no momento, presente para as outras pessoas, sorrir, manter uma mente e coração abertos e é nesta abertura que o fluir acontece. É nesta entrega que há felicidade.

Estive no ano passado num mosteiro Budista em Inglaterra e senti algo realmente de muito especial no meu Ser. A vida em comunidade, onde viviam os monges (homens e mulheres) e a comunidade leiga, é muito gratificante, porque podemos interagir com pessoas que tornam mais fácil e profunda a relação humana. Gostei muito de fazer trabalhos simples: pintar, trabalhar na cozinha, serrar e transportar lenha etc. Também gostei muito de meditar. Eu já tinha experimentado meditação sozinho mas é sempre difícil porque não tenho muita disciplina para conseguir praticar todos os dias. No mosteiro era mais fácil. Para mim, que sou um pensador obcessivo, a meditação é excelente e trás-me algum alívio. Adorei também meditar no templo de manhã (5 da manhã) e acompanhar os monges nos cânticos. Só estas pequenas coisas me deram uma satizfação enorme. Penso muitas vezes em voltar ao mosteiro e quem sabe envolver-me mais com a comunidade e até experimentar a vida como monge. Sinto-me algo dividído entre tomar essa decisão ou ficar em Portugal. Mas para mim é uma certeza que algo dentro de mim me pede para voltar a experienciar essa forma de vida, só me falta a coragem para o fazer.

"Antes da iluminação, cortar lenha, carregar água. Depois de iluminação, cortar lenha, carregar água."
Provérbio Zen

1 comentário:

Anónimo disse...

“É tudo uma questão de "saber estar" no tempo e no espaço. Este à vontade com a vida, com a existência, e a calma e felicidade que podem trazer, são difíceis de atingir para mim.”
Por isso os grandes Mestres espirituais que passaram por esta Terra, sempre ensinaram que a vida era: simplicidade, humildade, beleza, aceitação, doação, boa vontade e alegria.
Um abraço Fraternal
José