diluindo a confusão no ondular

O que escrever?

O Sol Negro
Tenho alguma dificuldade em escrever aqui porque nunca sei o que vou escrever e muitas vezes penso que o que vou escrever vai acabar por ser lido por alguém. Então esforço-me, a mente esforça-se demasiado para conseguir algo, refinado, inteligente, magnífico.
De onde vem essa vontade de querer mostrar, de querer perfeição, de querer atingir algo? Vem do medo de ser julgado? De pensarem "Ele não escreve bem." ou "Não percebo bem o que ele quer dizer, parece-me mais um maluquinho com ideias fantásticas, mais um pseudo-filósofo iludido"? Talvez.

Mas também vem de um desejo secreto de ser reconhecido, de receber confirmação que tenho razão, que não estou iludido, de receber palmadinhas nas costas, de receber comentários e visitas ao meu blog, e ter a ideia de que afinal, até que tenho algum valor, sou inteligente, as pessoas percebem-me, e gostam do que escrevo.

Mas é um engano da minha parte porque realmente não pratico a maior parte das ideias que escrevo. São apenas ideias, ideais, palavras, conceitos. Brinco com isto como se fosse um puzzle, uma brincadeira, um jogo. Depois dou por mim a agir de forma completamente contrária, magoo os que amo e magoo-me a mim próprio. Não basta ter estas realizações se depois não são postas em prátia. Como posso esperar que outros as ponham em prática se eu próprio não as ponho em prática?

Porquê escrever e continuar com este blog? Quem sou eu para pensar que posso ajudar alguém? O que pretendo com este blog? Sinto que partiu de uma necessidade sincera de ajudar e partilhar informação que eu sinto que pode fazer a diferença. Mas por vezes sinto que é uma ideia iludida porque realmente nem a mim mesmo me consigo ajudar. Pode servir mais como um sítio disponível para quem quer ler, e onde me posso exprimir. Parece-me importante podermos nos exprimir como também saber que existe alguém que nos compreenda. Neste Vazio em que vivemos o que de mais precioso existe é termo-nos uns aos outros, sermos compreendidos e compreendermos, e quando se dá essa compreensão, somos Um.

Algo aconteceu comigo e eu sinto que percebi algo muito importante que me foi revelado e de alguma forma pode ser que isto ajude os outros a conhecerem-se a si mesmos, é um conhecimento que pode fazer a diferença. Mas até que ponto será mesmo verdade? Porque eu realmente não tenho a certeza que possa ajudar. Tudo é incerto. Mas sinto que as peças fazem sentido.

Tenho tantas dúvidas, tantas incertezas, tantas questões me assaltam a mente. Porque naturalmente a mente quer um objectivo, um sentido para a existência. A mente quer saber: O que é realmente Verdade? Imortal? Certo? Permanente? Qual o caminho Verdadeiro? Para onde ir? Será o objectivo mais humano o fim do sofrimento (da luta interior) e aceitar o destino, a morte? Aceitar a corrente da maré e irmos com ela? Entregarmo-nos ao Universo? Rendição total? Entregarmo-nos a Deus? Pode ser que na realidade não exista nenhum propósito, ou Verdade. Ou então a Verdade é que existe liberdade absoluta para sermos nós a escolher esse objectivo, essa Verdade.

Parece-me que o mais humano possível neste Caos, é consolar os que sofrem. Mas por outro lado vejo essa massa como uma massa ignorante, que atrasa a evolução, que estagna, que atrasam os que despertam, que através da sua ignorância causam desiquilibrio, logo dificultam o processo pelo qual se poderá atingir um mundo melhor. Até que ponto não merecem estar onde estão?

Sou Deus e o Diabo. Sou o Criador e o Destruidor de toda a realidade. Sou a Vida e a Morte. Sou absolutamente vazio e mais pequeno que a mais pequena das particulas e no entanto sou o Cosmos. É tudo uma história, um drama Cósmico que conto a mim próprio. Mas quando digo Eu, não me estou a referir a este corpo, à minha personalidade, estou a referir-me à essência que dá Vida a este corpo, e que no final ma vai tirar. É a mesma que faz um pássaro voar, uma nuvem chover, o sol brilhar, e a galáxia girar.

Apenas quero ser reconhecido. Quero ser descoberto, respeitado, quero harmonia, equilibrio, paz, amor, mas também aventura, mistério, jogar e brincar com todos. Não reconheço moral, não reconheço regras, apesar de serem necessárias. Tudo é vazio, tudo é possível.

Por outro lado, apesar de ter tocado essa Verdade Absoluta de quem eu sou, penso que apesar de tudo, toda esta conversa não passa de masturbação mental, sou mais a personalidade que outra coisa. Estou aqui neste momento, neste corpo, sofro, sinto dor, sinto necessidade de amar e ser amado como qualquer outro humano, tenho fome, cago, como e durmo como todos.

Sinto-me como uma formiga que por alguns segundos se tornou humana e viu, compreendeu muito, só para depois voltar a ser de novo uma formiga. Uma formiga que não pode de forma alguma partilhar o que compreendeu, e nessa compreensão, vive e morre sozinha. Não há muito que eu possa fazer além de partilhar estes trechos de informação, estes textos, estas colagens de sons e ideias.

Mas é esse o problema não é? Estamos todos presos num labirinto de informação. As nossas mentes hipnotizadas por informação, ideias, conceitos, dogma. A Verdade, a resposta à pergunta "Quem eu sou?" ou "Quem somos?" está por trás dessa ilusão, na base, na origem.

Posso ter despertado para o Sonho, mas e agora? Não adianta de muito apenas despertar, é apenas um passo. Não resta fazer mais nada a não ser viver de acordo com a minha intuição, com o que o Coração me diz. Viver significa sofrer porque vivemos numa mentira. Viver para tentar ser alguém significa usar os outros, significa enganar e mentir, dividir, calcular, manipular.

A Verdade está na morte. Tudo o que nos sai da boca e dos dedos são mentiras ou desculpas para evitar, sobreviver, adiar esse grande mistério. Nada tem realmente importância. Podemos criar, construir, mas no final vai tudo dar ao mesmo. Resta aceitar e esperar por esse momento, e enquanto não vem, fazer para que quando chegue me encontre em paz comigo e com o mundo.

1 comentário:

Anónimo disse...

«Posso ter despertado para o Sonho, mas e agora? Não adianta de muito apenas despertar, é apenas um passo. Não resta fazer mais nada a não ser viver de acordo com a minha intuição, com o que o Coração me diz.»
Temos que aprender a morrer, momento a momento para saber viver…
Caminhar pala vida com aceitação, doação, beleza, simplicidade e humildade é difícil mas não é impossível…
Um abraço Fraternal
José