diluindo a confusão no ondular

Vulnerabilidade

Tenho necessidades como afecto, expressão, empatia, intimidade, humor. Estas necessidades não são cumpridas até um ponto de satisfação. Os mecanismos que uso para as satisfazer são disfuncionais e fogem do padrão "normal" da sociedade.

Isto gera uma insatisfação geral no organismo que me impede de relaxar e regular a actividade emocional e mental. Capacidade fundamental para o bem-estar, para conseguir lidar com os obstáculos do dia a dia e criar empatia com outros seres humanos.

A actividade mental torna-se excessiva. Vejo-a como um processamento de informação e cálculo que tenta ir de encontro a essas necessidades: ao verificar que não é bem sucedido entra em loop tentando perceber porquê, gerando uma auto-crítica constante e a gerar estratégias para conseguir o que preciso urgentemente. Nos momentos mais confusos ou quando tenho pouca energia identifico-me com essa actividade. Perco-me na imaginação, em pensamentos e emoções. Não é grave pois consigo manter um nível de auto-controlo e postura que me permite cumprir com as minhas responsabilidades de forma satisfatória.

Quando me sinto ligado a outros seres humanos, consigo lidar com essa situação. Sinto até um certo alívio. Mas quando me sinto desligado o stress emocional aumenta consideravelmente. São esses os momentos mais difíceis, quando me sinto isolado. A existência torna-se um fardo e surge uma necessidade de empatia muito forte e de ser reconfortado ou de partilhar esta dor, de a libertar. Penso que se conseguisse manter uma rotina que tornasse possível uma ligação positiva e empática com outras pessoas, talvez conseguisse obter alguma cura.

Muitas vezes a sensação de isolamento e rejeição não é real. É apenas uma percepção que a mente cria, e depois as emoções reagem a essa percepção. A necessidade de afecto, aceitação, empatia, é bastante forte. Por este motivo sempre que surge uma situação em que o confronto com outras pessoas não é positivo, ou é interpretado de forma negativa, sinto ressentimento, uma sensação de rejeição, de que não sou suficientemente bom para ser aceite, para fazer parte, para ser amado. Afectando assim os níveis de confiança e auto-estima.

O  ego tenta proteger-me desse desconforto emocional, com pensamentos e emoções que atacam a pessoa, ou acontecimento, que é identificada como a origem dessa dor. É nesse momento que surgem certas emoções fortes e destrutivas: raiva e frustração e como não as consigo exprimir de forma não-violenta, contenho-me, submeto-me e permaneço em silêncio.

É necessária clareza e serenidade para realmente perceber o que se está a passar nesses momentos e depois conseguir exprimir-me e agir de acordo com a realidade. Para conseguir essa capacidade é necessário libertar-me dessa insatisfação geral e urgência. Mas para isso teria que desistir das necessidades que estão na sua origem. Se o fizer receio afastar-me da minha humanidade, e escolher seguir um caminho solitário. Isso assusta-me.

Duvído também que tal seja possível ou saudável. A necessidade de ligação está profundamente enraizada na nossa natureza, não podemos desligá-la, porque somos seres orgânicos, emocionais, vulneráveis. Vivi 2 anos em mosteiros budistas onde os monásticos tentam fazer precisamente isso. Mas o que vi foi uma tentativa de ignorar a vulnerabilidade e construir muros à sua volta, máscaras, carapaças, armaduras. Pude testemunhar e sentir a dor que dai resulta. Estas estratégias não funcionam.

Não quero ser mais uma máscara. Quero abraçar a minha vulnerabilidade. Quero encontrar pessoas que a saibam receber. Que aceitem a minha realidade e que tenham coragem de mostrar a sua.

Acredito que a honestidade emocional e a partilha da nossa vulnerabilidade torna possível irmos ao encontro das necessidades uns dos outros. Assim o verdadeiro bem-estar e felicidade serão possíveis.

Voltei a uma vida mais normal: estou a trabalhar e tenho de comunicar com clientes e colegas diariamente. Percebo agora que grande parte do comportamento errôneo nas pessoas resulta de uma carência afectiva, de aceitação, ligação, auto-estima levando a um certo descontrolo emocional. A não satisfação destas necessidades ao ponto de gerar isolamento constante, tem consequências fisicas no organismo e sistema imunitário. Noto em mim, nos momentos mais difíceis, um aumento de desconforto físico, agravação de certas condições, e propensão para contrair doenças virais. Acredito também que grande parte do que é conhecido como doença mental tem origem na não satisfação destas necessidades. Depressão sendo a mais óbvia.

Nas crianças é imperativo que estas necessidades sejam satisfeitas o melhor possível, de forma a que o processo de aprendizagem escolar, mas também e mais importante, a aprendizagem emocional e desenvolvimento pessoal, se dê de forma correcta.


1 comentário:

Anónimo disse...

Na sociedade deste século é muito difícil sermos nós próprios.
Então recorremos continuamente às “máscaras”. Uma máscara para isto, outra para aquilo.
A maioria das pessoas se por uns momentos se visse como é realmente, ficaria assustada, não acreditaria naquilo que veria.
Assim caminhamos pela vida, umas pessoas com mais frequência outras com menos, mas com “máscaras”
Fraternalmente
José