diluindo a confusão no ondular

Neurónio Astronauta e o Espaço Interior













Era uma vez um neurónio no meu cérebro. Num dia perfeitamente normal, sem saber bem porquê decidiu parar com o seu trabalho e começou a questionar-se sobre quem afinal era ele, e o que é isto do "Grande Cérebro" que todos os outros neurónios falam e dizem servir.

Na sua demanda por conhecimento decidiu começar por falar com estes outros neurónios. Para seu espanto descobriu que afinal todos tinham opiniões diferentes do que era suposto estarem ali a fazer, e do que era o Grande Cérebro. Uns diziam que o objectivo principal era armazenar memórias, outros coordenação motora, outros diziam que o mais importante era manter os órgãos internos em funcionamento, outros ainda diziam que eram as faculdades intelectuais as mais importantes, e outros que não, que era a parte artística a mais evoluída.


Surpreendentemente, o nosso herói, sem o querer, gerou uma guerra neurónica. Os neurónios da coordenação motora a discutir com os da memória e dos órgãos internos, e os neurónios da esquerda intelectual, contra os da direita artística... uma confusão, uma guerra, ninguém se entendia, ninguém concordava sobre afinal qual o objectivo do "ser neurónio" e o que afinal era o Grande Cérebro.

Desapontado, o nosso neurónio percebeu que para buscar as respostas às suas questões existenciais teria que partir sozinho em busca de conhecimento, em busca do Grande Cérebro.

Viagem após viagem, o nosso herói acabou por conhecer o Lobo Frontal, o Lobo Occipital, os Lobos Parietais etc. Cansado, frustrado e insatisfeito por ainda não ter obtido as respostas que procurava, ganhou finalmente a coragem para entrar na corrente sanguínea e conhecer a origem deste Oceano que alimenta os neurónios. Depois de muitas viagens e conversas com as mais estranhas células, o nosso herói conheceu finalmente a origem deste grande Oceano vermelho que lhe trazia alimento, o Coração. Esta enorme bomba de sangue parecia brilhar aos olhos do neurónio e emanava uma descarga eléctrica nunca antes sentida, mas que estranhamente o fazia sentir bem e seguro.

- Ora viva meu filho. Estava à tua espera. Sinto que tens muitas perguntas a fazer-me, muitas dúvidas.

- Sim. Eu quero saber o que é que eu sou e porque é que é importante fazer o meu trabalho, e o que é afinal o Grande Cérebro.

- Tu fazes parte do Grande Cérebro, como tal é de extrema importância que cumpras a tua função. Fazes parte de um todo que não poderás compreender, mas poderás sê-lo e senti-lo em ti. No fundo tu és o Grande Cérebro.

- Mas outros neurónios têm funções diferentes, e ninguém parece saber ou concordar sobre quem é realmente o Grande Cérebro, e todos discutem uns com os outros sobre isto e sobre quais as tarefas mais importantes. Ninguém se entende, é o caos. Nada parece fazer sentido, quero parar com a minha tarefa, quero conhecer o Grande Cérebro, quero saber porque estou aqui, o porquê de tudo isto.

- Meu filho. É natural haver confusão entre os teus irmãos. Todos eles têm uma tarefa a cumprir diferente, e todos, ou quase, o fazem com dedicação e amor ao Grande Cérebro. É normal que quando confrontados com outras tarefas de outros neurónios podem ficar confusos. Mas é perfeitamente natural, porque são apenas neurónios, não podem compreender o Grande Cérebro na sua totalidade. Mas não te preocupes com eles nem com essa aparente confusão. A verdadeira questão aqui és tu. Esta tua curiosidade, a tua vontade de saber quem és, o porquê de tudo isto, esta sede de conhecer o Grande Cérebro. Na verdade digo-te que tu neste preciso momento, apesar de não parecer, estás a cumprir com a tua função, estás a fazer aquilo para que foste criado.

- Como assim? Parei com o meu trabalho, vim até aqui e sinto-me confuso, como posso estar a cumprir a minha tarefa?

- Na tua demanda por conhecimento, na confusão que criaste nos outros neurónios, nos hemisférios e nos Lobos, iniciaste uma revolução que está neste momento a ter um impacto enorme no Grande Cérebro, pois iniciou nele um processo de descoberta de si mesmo, de saber quem ele é, e qual a sua função, pois ele, tal como tu, é apenas parte de um todo maior ainda. E eventualmente ele virá também ter comigo para me conhecer e colocar-me-á perguntas semelhantes, e dar-lhe-ei a resposta que ele tanto procura. E isto tudo porque um simples neurónio decidiu um dia perguntar "quem sou eu?".

- Mas... mas... estou confuso... que todo maior ainda é esse? E como pode o Grande Cérebro conhecer-te? Quem és tu?

- HA HA HA HA... sempre curioso! Sou a Terra, a Natureza, o Cosmos, a Mãe do Grande Cérebro.

Maravilhado e feliz, apesar de não ter percebido totalmente o que se passou neste encontro, o nosso herói iniciou a viagem de regresso ao seu local de trabalho onde esperava contar aos seus colegas o que tinha aprendido sobre o Grande Cérebro e especialmente sobre o Coração e esta coisa nunca antes ouvida: o Cosmos.

O meu pequeno neurónio chegou então ao meu cérebro e contou tudo o que sabia aos seus irmãos. Maravilhados e felizes sobre esta maravilhosa história sobre o Cosmos, o Coração, sobre o importante papel que desempenhavam e que todas as tarefas eram na verdade igualmente importantes e ligadas entre si para servir o Grande Cérebro, voltaram ao trabalho mais contentes, mais felizes, e nunca mais voltou a surgir qualquer confusão e caos entre os pequenos neurónios, ou quase nunca.

Enfim, fez-se Luz nesta cabecinha pensadora.

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado pela partilha
A Mãe espiritual que nos criou tem uma missão para cada um de nós…no silêncio do nosso coração encontramos a resposta…
Fraternalmente
José